terça-feira, 23 de setembro de 2008

A Espiritualidade Anglicana


Rev. Gerardo Jaramillo González

A Espiritualidade Anglicana está em tudo aquilo que, sendo próprio do anglicanismo, favorece, fomenta e acrescenta a espiritualidade humana. Está em tudo aquilo que sendo anglicano, melhora a sua capacidade reflexiva, a sua fé e os dons do Espírito Santo, o transcendente que existe na pessoa humana e sua relação com o transcendente, com a própria pessoa, e com as coisas que a rodeiam. São quatro as ênfases que mais se sobressaem na Comunhão Anglicana: 1. A adesão às Sagradas Escrituras; 2. A tricotomia Bispo - Sucessão Apostólica – Grande Comissão; 3. A Liturgia; 4. A Capacidade de Adaptação.
1. A primeira ênfase do Anglicanismo está nas Sagradas Escrituras. Ênfase que é comum a todas as tendências da Reforma. Isto se manifesta de mil formas, das quais destacamos a profissão de fé, que se exige a todo o anglicano, e em especial a seus ministros, assim explicitada: “Declaro solenemente que creio que as Sagradas Escrituras do Antigo e do Novo Testamento são a Palavra de Deus, e que contém todas as coisas necessárias para a salvação...” (Loc. 383);
2. A segunda ênfase do Anglicanismo é essa tricotomia: Bispo – Sucessão Apostólica – Grande Comissão. A marcha da Comunhão Anglicana, Uma, Santa, Católica e Apostólica, que se dá “entre as angústias do mundo e os consolos de Deus”, gira em torno de um eixo: o Bispo. “Nele reside o poder executivo da Diocese, é o pastor principal, o guardião da fé, o símbolo da unidade, o pai da família eclesiástica da diocese. É ele o representante legal da Igreja diante do Estado, o presidente do Concílio Diocesano e do seu Conselho Executivo”. Por essa centralidade e ênfase no Episcopado é que boa parte do Anglicanismo é conhecido pelo nome de “IGREJA EPISCOPAL”. Daqui surge uma virtude que deve ser cultivada por todo bom anglicano: a obediência de Deus, a Jesus Cristo, que é quem nos lega a Grande Comissão, e ao Bispo, eixo da Igreja, legítimo sucessor dos Apóstolos, e encarregado de levar a efeito o cumprimento da missão recebida.
Dado que essa doutrina se baseia em boa parte nos Pais Apostólicos, sintetizamos tudo isso sob o título de “Patrística”. A segunda ênfase recai, então, sobre a patrística, dentro da qual se destaca o pai da configuração do episcopado: Inácio, o mártir e bispo de Antioquia. Os bispos trazem sobre os seus ombros e transmitem de geração a geração a grande comissão que é a que em síntese nos traz Mateus 28:18-20, e que diz: “Todo o poder me é dado no céu e a na terra. Portanto ide e fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-lhes a guardar todas as coisas que tenho ordenado, e eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo”.
3. A terceira ênfase está em sua liturgia, a qual, por sua vez, gira em torno do Sacramento Eucarístico. Aqui se inclui o Ofício Diário, a Oração Matutina, o Ofício para o Meio Dia, a Oração Vespertina diária, a grande Litania, e todas as formas de oração para leigos e clérigos. Aqui se inclui as cerimônias dos Sacramentos e dos Ritos Sacramentais de acordo com a instituição de Cristo, ou elaborados nos tempos apostólicos ou pós apostólicos sob a direção do Espírito Santo. Aqui se inclui os ritos de Celebração Eucarística, sob várias formas e as cerimônias de consagração dos bispos e os ritos de ordenação dos presbíteros e diáconos.
Por meio do Livro de Oração Comum (LOC) se administram os sacramentos, sinais externos que, conjuntamente com as formas sacramentais, conferem a graça a todos os que se convertem ao Senhor.
Fomenta-se o canto, inclusive o das diversas denominações, a piedade e as suas manifestações externas, mantendo-se, porém, sempre, a linha de uma estrutura litúrgica que nos diferencia das confissões alitúrgicas.
4. A quarta ênfase reside em sua capacidade de adaptação, ou capacidade de nascer das diversas culturas, qualidade que poderíamos sintetizar na palavra “contextualização”. O anglicanismo nasceu de um desprender-se da liturgia romana para elaborar outra que recolhera os valores dos anglos, que se contextualizaria para os ingleses. Por isso se diz que a Reforma Inglesa apontou prioritariamente para a liturgia que se incrustou nas leis do reino.
Quando essa comunhão católica chega aos Estados Unidos da América, a liturgia se volta para a cultura americana e se adapta à constituição, às leis e às idiossincrasias dos norte-americanos.
Na África, onde há nações de maioria Anglicana – mantendo-se sempre a sua essência – o Livro de Oração Comum assimila ritos e costumes da raça negra, e assim, juntamente como ornamentos, mitras e demais vestes, muitas vezes vão adornados com plumas e com a flora das nações afro.
Não é sem razão que o prefácio do Livro de Oração Comum, atualmente em uso, começa: “É uma parte muito inestimável na bendita liberdade com que Cristo nos fez livres, permitir sem ofensa alguma, diferentes formas e práticas em seu culto contanto que se conserve íntegra a essência da fé”. Aqui se expressa, como tudo o que é essencialmente anglicano, sua capacidade de adaptação, que viemos a denominar de “contextualização”.
Mas, como essas quatro ênfases contribuem para a espiritualidade anglicana? Por parte das Sagradas Escrituras, a resposta é óbvia: não há um livro entre todos os que se guardam nas bibliotecas do mundo que contribua tanto para o melhoramento da reflexão, pelas verdades que revela, que contribua tanto para a justiça e o amor, a retidão e o bom uso da liberdade por sua moral, ao crescimento da fé pelos mistérios que revela, como a Bíblia.
Os Pais da Igreja (como segunda ênfase) contribuem para o aprofundamento da espiritualidade dos anglicanos enquanto aclaram a configuração do episcopado, que vem indubitavelmente dos apóstolos, e que recebe a Grande Comissão para transmiti-la aos respectivos herdeiros da sucessão apostólica. A espiritualidade anglicana está comprometida com a Grande Comissão, que é levar, de forma missionária, “tudo que vos tenho ensinado”, toda a revelação de Jesus Cristo. Daqui se depreende que a espiritualidade anglicana inclua, definitivamente, obediência aos legítimos pastores, catolicidade, ênfase missionária e apostolicidade.
A Liturgia (terceira ênfase) influi definitivamente na espiritualidade pela oração litúrgica e extralitúrgica, que é para os leigos e clérigos, homens e mulheres, todos encontram aqui o grande meio para comunicar-se com Deus e o transcendente, e recebem os auxílios naturais que se resumem no presente da graça criada e incriada. Aqui se favorecem, fomentam e acrescentam os valores espirituais da fé e da caridade, da reflexão, da adesão ao bem, da liberdade da verdade em Cristo, da vivência da própria transcendência e o contato com o transcendente.
A quarta ênfase espiritualiza o homem enquanto encarna a Cristo em todas as nações, línguas, raças e culturas. Assim se espiritualiza cada nacionalidade com suas constituições e leis. Com a vivência de um Cristianismo assim contextualizado, tudo no homem se converte em um apêndice da espiritualidade: o corpo, a diversão, a música, o sexo, o trabalho, a geografia e a história de cada povo, na medida que tudo isso se cristifica melhora tudo o que é a espiritualidade humana.
Concluamos dizendo que quando compreendemos em que está a espiritualidade anglicana, temos de romper com o cordão umbilical das comunhões e denominações de onde procedemos.
Não podemos enfatizar as emoções por cima das convicções, nem substituir em sua totalidade nossos ritos de profundo conteúdo pelo êxtase, ou preservar as ênfases romanas em que a Sexta-Feira da Paixão predomina sobre o Domingo da Ressurreição, e onde se caminha mais com a procissão da Virgem do Carmo do que com o Pentecostes.
Enquanto não rompermos com essas ênfases do passado e de outras denominações não captaremos a espiritualidade anglicana, e nem seremos anglicanos.

Deputado Federal Fernando Ferro Solicita Audiência Pública na Comissão de Direitos Humanos

12-Ago-2008

O deputado Luís Couto (PT/PB) deu entrada em um requerimento na Comissão de Diretos Humanos da Câmara Federal solicitando audiência pública com a presença do Sr. David Josué, membro da organização "Pour mes freres et soeurs en Haiti" (pelos meus irmãos e irmãs do Haiti). A organização defende cidadãos haitianos que tiveram seus direitos civis violados. O Sr. Josué estará no Brasil entre os dias 19 e 20 de agosto. O requerimento foi elaborado a partir de uma solicitação do dep. Fernando Ferro.
No mês de abril deste ano, durante a participação no 2o Encontro Continental "Pela Soberania Nacional, Contra as Privatizações e os Tratados de Livre Comércio", que aconteceu na Cidade do México, o deputado Fernando Ferro recebeu do advogado haitiano David Josué uma carta que pede uma atitude do presidente Luís Inácio Lula da Silva sobre graves denúncias contra a ação das tropas da ONU, comandadas pelo Brasil.
A carta foi entregue pelo deputado Ferro ao chefe de gabinete da presidência da república, Gilberto Carvalho, no dia 30 de abril.
Na ocasião, Gilberto Carvalho considerou que o Haiti vive uma "situação complicada, onde a tropa acaba se envolvendo em situações ruins", e destacou que esta carta "pode ajudar na procura de outras medidas para solucionar o problema".

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O SIGNIFICADO DO TAU


O Tau é a última letra do alfabeto hebraico;a décima nona letra do alfabeto grego;sinal bíblico usado pelo profeta Ezequiel:
“Chamou o Senhor
Deus o homem vestido de linho branco, que trazia à cintura os instrumentos de escriba e lhe disse: percorre a cidade, o centro de Jerusalém, e marca com um “T” na fronte os que gemem e suspiram devido a tantas abominações que na cidade se cometem.” (Ez 9,3-4)
Todo aquele que tinha sido assinalado com o “T” foi poupado do extermínio.
O Papa Inocêncio III (1160-1216) explica o sentido do Tau: “Tem a forma de
Cruz; quem o traz consigo, vive sua fé.”
São Francisco teve grande veneração por esta letra, pois lhe lembrava o grande
amor de Cristo por nós.
Portanto, o Tau é:
A lembrança da Redenção, da Cruz, do Amor;Sinal de penitência e conversão interior;Sinal de dor pelos pecados do mundo;Recordação de nosso batismo; nossa marca de Filhos de Deus;Sinal de salvação .
São Francisco selava o que escrevia com o Tau, para significar a densidade do Amor de Deus, concretizado na Cruz de Cristo, sinal de Salvação.
Para aqueles que gostam de se aprofundar, será interessante ler este artigo abaixo, retirado de http://www.franciscanos.org.br:
“TAU - SÍMBOLOS E SIGNIFICADOS:
Há certos sinais que revelam uma escolha de vida. O TAU, um dos mais famosos símbolos franciscanos, hoje está presente no peito das pessoas num cordão, num broche, enfeitando paredes numa escultura expressiva de madeira, num pôster ou pintura. Que escolha de vida revela o TAU? Ele é um símbolo antigo, misterioso e vital que recorda tempo e eternidade. A grande busca do humano querendo tocar sempre o divino e este vindo expressar-se na condição humana. Horizontalidade e verticalidade. As duas linhas: Céu e Terra! Temos o símbolo do TAU riscado nas cavernas do humano primitivo. Nos objetos do Faraó Achenaton no antigo Egito e na arte da civilização Maia. Francisco de Assis o atualizou e imortalizou. Não criou o TAU, mas o herdou como um símbolo seu de busca do Divino e Salvação Universal.
TAU, SINAL BÍBLICO
Existe somente um texto bíblico que menciona explicitamente o TAU, última letra do alfabeto hebraico, Ezequiel 9, 1-7: “Passa pela cidade, por Jerusalém, e marca com um TAU a fronte dos homens que gemem e choram por todas as práticas abomináveis que se cometem”. O TAU é a mais antiga grafia em forma de cruz. Na Bíblia é usado como ato de assinalar. Marcar com um sinal é muito familiar na Bíblia. Assinalar significa lacrar, fechar dentro de um segredo, uma ação. É confirmar um testemunho e comprometer aquele que possui o segredo. O TAU é selo de Deus; significa estar sob o domínio do Senhor, é a garantia de ser reconhecido por Ele e ter a sua proteção. É segurança e redenção, voltar-se para o Divino, sopro criador animando nossa vida como aspiração e inspiração.
O TAU NA IDADE MÉDIA
Vimos o significado salvífico que a letra hebraica do TAU recebe na Bíblia. Mas o TAU tem também um significado extrabíblico, bastante divulgado na Idade Média: perfeição, meta, finalidade última, santo propósito, vitória, ponto de equilíbrio entre forças contrárias. A sua linha vertical significa o superior, o espiritual, o absoluto, o celeste. A sua linha horizontal lembra a expansão da terra, o material, a carne. O TAU lembra a imagem do sustentáculo da serpente bíblica: clavada numa estaca como sinal da vitória sobre a morte. Uma vitória mística, isto é, nascer para uma vida superior perfeita e acabada. É cruz vitoriosa, perfeição, salvação, exorcismo. Um poder sobre as forças hostis, um talismã de fé, um amuleto de esperança usado por gente devota sensível.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

SOLANO TRINDADE



Poeta pernambucano, filho de um sapateiro, nascidoem 1908. Emigrou para São Paulo. Foi operário e colaborouna imprensa. Trabalhou no cinema e manteve um grupo teatralfolclórico por vários anos. Escreveu Poemas de uma VidaSimples e Cantares do Meu Povo


ORGULHO NEGRO


Eu tenho orgulho de ser filho de escravo...Tronco, senzala, chicote,Gritos, choros, gemidos,Oh! que ritmos suaves,Oh! como essas cousas soam bemNos meus ouvidos...Eu tenho orgulho em ser filho de escravos..

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

RESGATANDO NOSSA HISTÓRIA II


Diocese do Recife: 30 Anos - O Período Sherril (1976-1985)

O Primeiro Bispo da nossa Diocese, então denominada de Diocese Setentrional – com jurisdição sobre todos os Estados das regiões Norte e Nordeste – foi Revmo. Dom Edmund Knox Sherrill , missionário norte-americano, e ex-Bispo da Diocese Central (Rio de Janeiro).
Seu pai, o Revmo. Henry Knox Sherrill , foi Bispo Diocesano de Massachussets (Boston), Primaz da então Igreja Protestante Episcopal dos Estados Unidos da América (PCUSA), primeiro Presidente do Conselho Nacional de Igrejas dos EUA, e Capelão-Chefe das Forças Armadas daquele país na Segunda Guerra Mundial. O jovem Edmund formara-se em História pela prestigiosa Universidade de Yale e, servindo nos campos de batalha na Europa, sentiu o chamado para o ministério (como o fizera o seu irmão), cursou o Seminário, foi ordenado Diácono e Presbítero, e se apresentou à Junta de Missões Estrangeiras, vindo a servir no Brasil.
Dom Sherrill era um cavalheiro, de modos gentis e personalidade firme, ampla cultura, pastor, amigo, demonstrando evidentes sinais de carismas para o Episcopado. Politicamente, uma pessoa de esquerda, apoiou a União Cristã dos Estudantes do Brasil (UCEB) e foi um dos oradores da famosa “Conferência do Nordeste” , promovida no Recife, em 1962, pela Confederação Evangélica do Brasil, e que reuniu intelectuais cristãos e seculares ( Gilberto Freyre, Celso Furtado, Paul Singer e outros), sob o tema: “Cristo e o Processo Revolucionário Brasileiro” , teve que usar o peso do seu nome para soltar dos órgãos de repressão do regime militar o jovem Rev. Almir dos Santos (depois Bispo de Brasília), de um episódio do qual também participara, e por pouco deixara de ser preso o jovem Paulo Ruiz Garcia (a época também de esquerda...). Teologicamente – como grande parte de sua geração – era, por um lado, não um evangelical, mas um neo-ortodoxo, por outro, em sua simplicidade, um adepto da despojada liturgia da “Igreja Baixa” no Anglicanismo. Sua convivência no Brasil o foi aproximando do Evangelicalismo, chegando a ser um dos co-presidentes da Cruzada Billy Graham Grande Rio, teve uma experiência pessoal carismática, o que o levou à glossolalia (falar em línguas) e a, com discrição, exercer o dom de cura, por imposição de mãos. Foi um Sherrill já maduro, com larga experiência e visão missionária, que propôs à Província a criação da Diocese Setentrional, com a decisão de, ele próprio, se mudar do Rio de Janeiro para o Recife.
O novo projeto diocesano, por iniciativa do Bispo Sherrill , teria, desde o início, o apoio da missão inglesa SAMS, e a presença de um clérigo nacional com dons evangelísticos: o Rev. Paulo Garcia , ex-empresário (indústria e agricultura) não bem sucedido nos negócios, que fora expulso (juntamente com toda a sua turma) do Seminário Presbiteriano de Campinas-SP; estudara, depois no Seminário da Igreja Presbiteriana Independente e, por fim, no Seminário da Igreja Episcopal do Brasil (na época um internato em São Paulo , quando compôs a música paródia: “Todos Mortos com o LOC na Mão” ), vindo ali a se filiar ao Anglicanismo. O Bispo Sherrill resolveu nele investir, ordenando-o Diácono e Presbítero, designando-o para servir em algumas comunidades em São Paulo e no Rio de Janeiro, cursar Filosofia e Direito (em escolas periféricas), e enviá-lo para estudar no Instituto de Bossey, na Suíça, do Conselho Mundial de Igrejas, e junto a SAMS, na Inglaterra, como preparação para servir no Nordeste, a partir de março de 1975, totalmente sustentado pela Igreja, vivendo na casa pastoral, em estilo de vida forçosamente simples.
O mesmo – também de posição teológica neo-ortodoxa – bom orador, envolvente e competente em relações públicas, começa o seu trabalho com os Confirmados remanescentes do ministério do Rev. Alfredo Rocha da Fonseca Filho , agregando, na fase inicial, membros insatisfeitos de igrejas evangélicas, vestindo para os cultos o robe genebrino preto (usado por presbiterianos, metodistas e congregacionais em alguns países), aproximando-se das lideranças protestantes, usando traduções dos roteiros litúrgicos da Igreja de John Stott , tendo o Hinário Evangélico como fonte de canto, acompanhado pelo órgão de tubo, e, posteriormente, por um coral clássico, com classes de Escola Bíblica Dominical para todas as idades, e Eucaristia apenas um domingo por mês. Publicamente desfazia do Livro de Oração Comum, mas o usava, discretamente, como fonte para suas “belíssimas” orações públicas. Enquanto isso, o Bispo continuou a viver no Rio de Janeiro em 1975 e 1976. O chamado “Período Protestante” da Paróquia da SS. Trindade prosseguiu até 1978. Ouvi, em 1976, do Pároco, duas “pérolas” eclesiológicas: “Esse ministério é uma maravilha: eu aqui e o Bispo no Rio de Janeiro...” , e “Essa Igreja Episcopal é uma maravilha; o único problema são os Bispos...” .
A Diocese Setentrional foi criada pelo Sínodo Geral da Igreja Episcopal do Brasil em 20 de Maio de 1976, e o Bispo Sherrill se mudou para o Recife apenas no início do ano seguinte, 1977, passando a residir na Av. Rosa e Silva, no Espinheiro. A Diocese, em seu início, era composta por apenas três Paróquias: Santa Maria ( Rev. Anselmo Stein ), Belém-PA, onde a IEAB contava com a prestigiosa “Escola John Kennedy” ; SS. Trindade ( Rev. Paulo Garcia ), Recife-PE e Bom Pastor ( Rev. Stuart Broghton ), Salvador-BA.
Com o seu prestígio familiar e pessoal nos EUA, o Bispo não teve maiores dificuldades em levantar ofertas financeiras de amigos, parentes e instituições, e sua visão missionária o levou, rapidamente, a abrir novos Pontos Missionários, alguns com projetos sociais, e que, viriam a se transformar em Missões ou Paróquias: São Lucas, em Nova Marambaia-PA ; Ressurreição, em João Pessoa-PB ; O Salvador, em Itaparica-BA; Bom Samaritano, em Boa Viagem e Redentor, na Várzea, ambos no Recife-PE; e Emanuel, em Olinda-PE. Os trabalhos na Ilha de Itaparica e na Várzea tiveram uma forte ênfase social: educação, saúde, mobilização comunitária etc. Infelizmente um jovem missionário oriundo de uma denominação pentecostal, e de mínima formação anglicana, levou consigo a maioria do povo e das propriedades de Itaparica, chocando e entristecendo o bondoso Bispo, que queria avançar, mas que contava com reduzido número de líderes treinados e disponíveis na novel Diocese.
Para a formação de clérigos e líderes leigos, o Bispo Sherrill criou o NAET – Núcleo de Estudos Anglicanos, que funcionava, em fins-de-semana, na antiga casa pastoral da SS. Trindade, transformada em Escritório Diocesano e Paroquial, onde estudaram três dos seus ordinandos, os futuros reverendos: Ian Meldrum, Robinson Cavalcanti e Antônio Carlos (da Bahia), complementando suas formações em Anglicanismos. Os outros Ministros Ordenados durante o período Sherrill foram: Josephino Lobato , de Belém-PA e um fazendeiro japonês, Ministro local, para servir à colônia nipônica de plantadores de pimenta. Posteriormente o Bispo organizou dois núcleos de jovens vocacionados ao ministério: os mais “renovados” sob a sua direção espiritual, e os mais “tradicionais” sob a direção do já Rev. Robinson Cavalcanti . Deixou o Bispo, ao final, já preparado o processo do Postulante e depois Rev. Washington Franco . Durante o seu Episcopado recebemos a visita do Bispo-Presidente da ECUSA, Revmo. Edmond Browning .
O Bispo Sherrill viajava ao exterior e para a sede provincial, em Porto Alegre , dava assistência aos novos Pontos Missionários e aos projetos sociais, recebia pastoralmente os fiéis em seu gabinete, mas se envolvia cada vez menos com a Paróquia da SS. Trindade (onde dirigia um culto de oração às quartas-feiras e os ofícios de Semana Santa, com reduzida freqüência, período quando o Pároco tirava para descansar...), deixando o seu dirigente cada vez mais “solto” . Este, nos primeiros anos no Recife, continuava politicamente de esquerda, recebendo o título de “Cidadão do Recife” por iniciativa dos “autênticos” do MDB, e apoiando abertamente a candidatura de Marcos Freire (contra Roberto Magalhães ) para Governador do Estado de Pernambuco, sendo, ainda, o Capelão da Convenção partidária, e levando o candidato a um culto nas vésperas das eleições.
Em 1978 e 1979 aquela Paróquia substitui seu “Período Protestante” (tradicional) por seu “Período Carismático” , tendo as alunas do Seminário Betel Brasileiro, de João Pessoa-PB, como professoras da Escola Dominical, o convite como preletores de figuras como o Pastor Enéas Tognini , o Pastor Reuel Feitosa e a missionária e ex-atriz Darlene Glória , o intercâmbio com igrejas “renovadas” , e com o primeiro núcleo da Renovação Carismática no Recife, na Paróquia do Cajueiro, dirigido por freiras. Uma profecia sobre “um belo vaso de barro feito por mãos humanas, que precisa ser quebrado para que eu refaça” , emitida em uma reunião para pastores no Seminário Betel, começou a arrefecer o entusiasmo do Pároco com essa corrente do Cristianismo.
A partir de 1979, a Paróquia da SS. Trindade inicia a sua terceira fase, diferente das duas anteriores, que poderíamos denominar de “Período Casalístico” . Um grupo de casais – o Pároco à frente – fez o Encontro de Casais com Cristo (ECC) na Igreja Presbiteriana Jardim das Oliveiras (da IPU), em São Paulo. Ao regressar, pleno de entusiasmo, exclama o Pároco a seguinte expressão teológica: “Achei uma mina!” . Todos os demais ministérios foram abandonados, e, por um longo período, tinha-se ECC a cada dois meses, com os adolescentes e jovens, os pobres e os solteiros se sentindo abandonados, alguns deixando a Paróquia. Frase de um membro da Junta Paroquial e líder do ECC: “Não vamos hostilizar pobres, solteiros, viúvos ou divorciados, mas a opção desta Paróquia é pelos casais de classe média, e todos os cargos serão ocupados por eles!” . Deslocava-se a fé no Cristo para a fé no método, tido como inquestionável e infalível.
O Bispo Sherrill estava cansado de um longo episcopado (Rio de Janeiro e Recife) de imensas Dioceses, e não teve a paciência em esperar por transformar a Diocese Setentrional de Diocese Missionária (sem autonomia) em Diocese Plena (com autonomia para escolher o seu Bispo), resolvendo se aposentar. Na época ele exercia as funções de Primaz Interino (com o falecimento do Primaz Dom Arthur Rodolpho Kratz ). Como uma figura respeitada, exercendo uma função importante, com a “fama” de evangelista bem sucedido do seu pupilo, não fez uma articulação na Câmara dos Bispos, nem apresentou nomes alternativos, mas apenas a do Rev. Paulo Garcia , deixando o plenário do Sínodo Geral da IEAB em uma situação plebiscitária. O candidato era reconhecido pelo seu carisma de evangelista, mas não de Bispo e carecia de uma postura humilde, além do fato de que a corrente liberal-católica estava consolidando a sua hegemonia sobre a Província. O resultado foi a surpreendente derrota do Rev. Paulo Garcia , sendo eleito Bispo Coadjutor da nossa Diocese o então Deão da Catedral de Santa Maria-RS (e que não conhecia o Nordeste nem como turista) o Revmo. Clóvis Erly Rodrigues. Tive que dirigir o culto e dar a notícia do resultado a uma congregação em comoção. Tive , por determinação do Bispo Sherrill , juntamente com a irmã Dalila, da Paróquia Anglicana do Bom Samaritano, de me deslocar para a cerimônia de Sagração na Catedral de Porto Alegre (não havia qualquer clima para que a mesma se desse aqui) e saudar o consagrado na festa que se seguiu no Teresópolis Tênis Clube.
Durante o ano de 1985 o Bispo Sherrill trabalhou ao lado do seu Coadjutor, o Bispo Clóvis , que imediatamente assumiu a supervisão dos seminaristas (dissolveu os antigos dois grupos, juntando a todos sob a sua direção), e, progressivamente outros encargos, sem as boas vindas da maioria dos fiéis, ressentida pelo mesmo nos ter sido imposto pelo Sínodo. No início de 1986 o Bispo Sherrill renuncia, se aposenta e muda sua residência de volta ao Rio de Janeiro, amado por sua ex-Diocese, que, por outro lado, ficava tensa, “em temor e tremor” quanto ao seu futuro. (continua).

(Compilação Histórica: Revmo. Dom Robinson Cavalcanti )