segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

XXX Concílio Diocesano

Sermão de Encerramento do XXX Concílio Diocesano

04.12.2010

Sl 20; Is 4:2-6; I Ts 4:13-18; Lc 21:5-19

Meus irmãos e minhas irmãs,

A paz do Senhor seja convosco!

Estamos caminhando para o término do nosso XXX Concílio Diocesano e Concílio Extraordinário, concluindo uma jornada na caminhada do Reino. Ficam as memórias do que vimos e ouvimos; dos laços de afeição estabelecidos e aprofundados; a análise da nossa conjuntura, as deliberações tomadas e os alvos que nos propomos para a nossa próxima jornada.

Reunimo-nos no dia que a Igreja homenageia a memória de um dos seus Pais Orientais, João Damasceno, ou João de Damasco, do século VIII, pensador e líder no início da invasão do Islã à sua terra natal, a Síria, um homem marcado tanto pela ortodoxia como pela piedade, escritor, ocupante de cargo público, que opta pelo sacerdócio e pela vida monástica. João simboliza presença em um mundo, mesmo quando adverso, inclusive no serviço público, e esse equilíbrio fundamental que todos nós devemos sempre buscar entre a reta doutrina e o reto relacionamento para com Deus e para com o próximo.

Reunimo-nos no dia que a Igreja também homenageia um dos seus mais importantes documentos credais, a Confissão de Westminster, de corte calvinista, que tem tido uma imensa influência no pensamento cristão através dos séculos, e cujos pontos de contatos são muitos com os nossos XXXIX Artigos de Religião. A fé deve ser vivida, mas deve ser explicada e defendida, articulada, no exercício da sintonia da nossa mente com a mente de Cristo, em uma época de preguiça intelectual, antiintelectualismo e pragmatismo superficial, simplista e uniformizante.

Concluímos esse Concílio, mais uma vez, entregando à Igreja novos obreiros para a seara. Esse ano tivemos como tema as vocações, que é um tema central do pensamento reformado para as nossas vidas, e é um tema fundamental para a construção da Igreja. Sente-se no cristianismo reformado em nosso país uma crise de vocações, em termos numéricos, e uma crise nas vocações, em termos de profundidade, qualidade e ética dos pretensamente vocacionados. Uma comunidade sadia suscita vocações, e vocações sadias, a serviço de todo o Corpo.

A Ordenação Diaconal de Davi Amado registra a centésima Ordenação do nosso Episcopado. Algo que não foi planejado ou perseguido, mas que aconteceu pela ação do Senhor e nossa instrumentalidade, malgrado decepções no caminho. A Ordenação Diaconal de Davi, a Ordenação Presbiteral de Sônia e a instituição como Evangelista de Williams se dão dentro de um espírito eminentemente missionário.

Com o salmista, reafirmamos a nossa confiança no Senhor, no dia da angústia, na necessidade de socorro, nos desejos do nosso coração e em nossos planos, na necessidade de força e de salvação, na busca de respostas, no livramento. O ensino é que não confiamos em engrenagens e sistemas humanos, mas que invocaremos o nome do Senhor nosso Deus. E a consoladora promessa é que: “Uns tropeçam e caem, mas nós nos erguemos e ficamos de pé”.

Todos nós, pastores e ovelhas, conhecemos os momentos de tropeços, e os momentos de queda, mas não ficamos no chão derrotados, Ele nos ergue e prosseguimos de pé.

O profeta fala na necessidade de purificação do povo de Deus, e da presença de Deus acompanhando esse povo purificado, presente em suas assembleias, reunidas à sombra, preservada das intempéries, coberta pela glória. A Igreja hoje, como Israel ontem, vive um momento difícil de ambições e projetos pessoais, divisionismos e heresias, profunda influência do mundo em seus enfermos modelos políticos, econômicos e culturais, a clamar por arrependimento e mudança; a clamar por purificação, para que possamos, outra vez, sentir a glória do Senhor.

Diante das dificuldades da vida e da certeza da morte, o apóstolo nos consola com a certeza da parousia e a esperança da ressurreição. Do alto e por dentro é que somos consolados, em nossos pensamentos e em nossos sentimentos. E todos nós sabemos que somos permanentes enfermos e permanentemente em processo de cura, enquanto somos agentes de cura na Igreja, que deve ser, em seu conjunto, uma comunidade terapêutica.

Haverá um tempo do fim, antes do fim do tempo, marcado por guerras, pragas e fomes, por sinais na natureza, por falsos profetas, pela perseguição aos crentes. Essas coisas acontecerão para que se dê testemunho da fé, e o Senhor Jesus Cristo é que colocará na boca de cada um a sua mensagem. Há a Grande Tribulação e há a tribulação do cotidiano de cada vida, quando parentes e amigos nos trairão e destruirão, até, as nossas vidas. Essa Diocese conhece bem o que são tribulações e o que são traições; esse Episcopado conhece bem o que são tribulações e o que são traições, com ânimo destrutivo.

O que esperamos é ter sempre a cura do céu e as palavras do céu em nossa boca que fala à terra.

A insegurança diante do desconhecido, a incerteza diante do amanhã, a não confiança no amanhã dos nossos irmãos e dos nossos amigos, porque sabemos o que sofremos ontem pelos feitos perversos e desleais dos nossos irmãos e dos nossos amigos, é uma realidade devastadora, que temos que conviver com ela, entendendo o que seja martírio, e o pior martírio não é o que vem do mundo, mas o que vem do interior do acampamento do Povo de Deus.

A pós-modernidade é um mundo mais incerto do que a sua usual falta de certezas. A Igreja de Cristo, tenha ela um discurso liberal ou um discurso conservador, reflete terrivelmente, de diversas maneiras, a tragédia da pós-modernidade, no desrespeito à tradição e ao legado apostólico, na arrogância dos detentores de um saber superior, que é uma forma sofisticada dos cultos de mistério.

Sônia, Davi, Williams, vocês estão recebendo nesse Rito, o reconhecimento de uma vocação, e estão sendo ungidos para um ministério: um ministério do povo da Bíblia, um ministério do povo da Reforma, um ministério no Anglicanismo, e fazem juramentos e promessas não apenas diante do Bispo e da comunidade, mas diante das suas consciências e do seu Deus, em um tempo em que se brinca com Deus e se pretende dar ordens a Deus.

Esse é um momento de sentimentos ambíguos para esse celebrante, por tantas festas de Ordenação nesses treze anos, espaço de sonhos e de esperanças, mas também a memória das traições, das desilusões e dos perjúrios, em um dilacerante processo que não parece estancar.

Pelos próximos três anos e meio, pretendo continuar fazendo a mesma coisa, mesmo que continue a sofrer resistências, boicotes, traições e perjuros, porque foi essa a cruz que me foi dada levar. Tenho tentado cumprir a minha missão. Uma etapa da missão está caminhando para o seu término, e o Senhor da minha vida irá dizer o que significará a próxima etapa.

Espero que um remanescente fiel permaneça e que a semente do Anglicanismo em uma geração futura venha a florescer, fruto do trabalho dessa geração que plantou e regou.

Há outras propostas, há outras alternativas no diversificado mercado religioso, e que cada um escolha a que melhor lhe apraz, mas que nos deixe ser nós mesmos e não outra coisa.

Meus irmãos e minhas irmãs,

Louvado para sempre seja o Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo!

Regressem para os seus campos movidos pelas virtudes teologais do lema do próximo ano: a Fé que nos faz receber a Graça, nos concede esperança diante de todo desespero, e o Amor, como fruto primeiro do Espírito Santo, e sinal da sua presença transformadora no meio do seu povo.

A Ele toda honra e toda glória, hoje e para sempre. Amém!

Jaboatão dos Guararapes (PE),

04 de dezembro de 2010.

Anno Domini

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