- Ed Ruas
- Direto de Recife
Líder da bancada do PT na Câmara Federal, o deputado Fernando Ferro (PE) creditou ao PSDB a confecções de dossiês e acusa o deputado federal tucano, Marcelo Itagiba de ser "um notório agente desse submundo de informações e da política da conspiração". O petista citou o parlamentar pela suposta conexão entre ele e o ex-delegado da Polícia Federal, Onésimo Sousa, que garantiu ter sido procurado por interlocutores de Dilma Rousseff (PT) para confeccionar um dossiê.
De acordo com Fernando Ferro, a aliança com PMDB tem suas "concessões". Um exemplo foi o incidente ocorrido no Maranhão, onde petistas históricos acamparam uma greve de fome em protesto ao apoio do PT à pré-candidatura de Roseana Sarney (PMDB) ao governo. O líder da bancada afirma que algumas situações regionais "requerem certa tolerância" e lembrou que a participação dos peemedebistas tem sido importante para a governabilidade de Lula.
Terra - O senhor participou do acordo que encerrou a greve de fome do deputado federal Domingos Dutra e do líder camponês Manoel da Conceição, ambos fundadores do PT, que discordavam da aliança do PT com a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB). Como o partido avaliou esse protesto?
Fernando Ferro - A forma de protesto utilizada por companheiros do PT do Maranhão foi essa greve de fome. Primeiro, quero manifestar que sou contra esse tipo de manifestação. É uma ação extremamente grave e limite, pois se coloca a em jogo a vida por conta dessas divergências. Mas respeito. Esse campo político do Maranhão tem muita responsabilidade no PT, Manoel da Conceição militou no PT de Pernambuco, no inicio do PT. É um companheiro do PT e temos nele além do compromisso político, um compromisso afetivo com ele. Entramos no circuito para buscar uma mediação. E conseguimos superar esse impasse. Garantimos o direito deles de dissidência, eles vão atuar no Maranhão sem a obrigação de fazer campanha para Roseana Sarney.
Terra - Até pouco tempo atrás, esse tipo de aliança era rechaçada pela grande maioria dos petistas. O que mudou?
Fernando Ferro - A aliança é com o PMDB e é uma aliança nacional. Evidente que o PMDB tem situações variadas. No Maranhão, o PMDB pertence ao grupo Sarney, que nos apóia no campo nacional e no Senado. Tem participado da base do Governo e, independente das divergências políticas, faz parte do agrupamento que dá sustentação ao governo Lula. Essas situações regionais requerem certa tolerância.
Terra - Este caso no Maranhão não dá a entender que PT é refém do PMDB?
Fernando Ferro - O PMDB é um partido estratégico, importante e tem sido muito solidário com o PT na Câmara dos deputados. Tem sido de uma extrema serventia o apoio da bancada do PMDB. Na disputa nacional é evidente que temos que fazer algumas concessões. O PMDB tem, por exemplo, candidato na Bahia, no Rio Grande do Sul e não foi possível fazer aliança com eles nestes estados. O que acontece no Maranhão é semelhante, não conseguimos fazer. Achamos que essa é a maneira possível de conviver neste momento.
Terra - Mas essas concessões não extrapolam os limites? Temos como exemplo as solicitações do PMDB para encabeçar ministérios...
Fernando Ferro - O PMDB tem a maior bancada do Congresso e, uma coalizão, uma coligação para governar um País, requer uma divisão de responsabilidade. Nós fizemos isso. É fruto de uma correlação de forças que existe no plano político nacional. Eu lhe digo que gostaria que o PT tivesse a maioria dos ministérios, mas nossa situação não permite isso. Para governar precisamos de alianças, e para isso temos que dividir as responsabilidades. Não são concessões apenas. São participações para governar. Esperamos que isso evolua para uma aliança programática e mais consistente. As disputas regionais existem, mas temos que ter em mente que nosso objetivo principal é a presidência da República. Por isso, em alguns momentos, temos que fazer concessões nas políticas regionais.
Terra - A diretriz é manter o Poder custe o que custar?
Fernando Ferro - Não é custe o que custar. Nós definimos nossos parceiros. Temos a oposição, DEM, PSDB e PPS. Que devem cumprir seu papel, mas não queremos acordo. Nós compomos um campo político que reflete uma pluralidade de partidos que apoiou o presidente Lula, que sustentou o governo no Congresso. Vamos avançar para consolidar essa aliança. O candidato a vice é do PMDB e estamos discutindo juntos o programa, a campanha e a condição de governabilidade. Temos vários partidos, com diferenças regionais, mas com um eixo importante. Quem tem problemas, hoje, são nossos opositores que não conseguem montar uma chapa, não conseguem nem mesmo armar um vice. Nós estamos cumprindo nossa agenda e cumprindo com competência, pois nossa candidata cada vez mais se afirma nas pesquisas e consolida seu espaço nas candidaturas.
Terra - Antes mesmo do registro das candidaturas entrou em voga suspeitas de confecção de dossiês. O último fato sobre o assunto registrado é a declaração do ex-delegado federal, Onésimo Sousa, que disse ter sido procurado por pessoas ligadas a Dilma Rousseff (PT)...
Fernando Ferro - Isso é mentira! Ele não foi contratado nem por Dilma e nem pelo PT. Ele disse que foi sondado por pessoas que trabalhariam na organização do comitê de campanha. Não tem ninguém do PT em contato com esse senhor. O senhor Onésimo foi um delegado federal que trabalhou com Marcelo Itagiba, que é deputado federal do PSDB. Eles (tucanos) não têm um projeto político e querem sabotar a campanha com dossiês. O especialista em dossiê é o PSDB. Serra é o responsável por esquema de dossiê. Não temos nenhum deputado federal que seja policial federal, como Marcelo Itagiba que é um notório agente desse submundo de informações e da política da conspiração. Onésimo se afirma como anti-petista. É um militante político do submundo da arapongagem, um desqualificado. Quanto mais eles falam, nossa candidata se consolida. É o desespero deles, pois não têm um vice e nenhum programa de governo. Uma hora atacam Lula e outra hora, defendem. Estão totalmente perdidos e têm que arranjar adereços para tentar criar esse tipo de baixaria. Estamos com mais de cinco pontos a frente nas pesquisas internas, vai ser muito choro dos tucanos.
Terra - Mesmo assim, a candidata Dilma Rousseff está bem abaixo dos índices de popularidade e avaliação do governo Lula. O que falta para ela ampliar a vantagem? Lula pedir o voto?
Fernando Ferro - Você acha pouco ela estar à frente de José Serra a essa altura do campeonato? Não é pouca coisa não. Estou assustado positivamente com os percentuais dela. Esperávamos que isso só fosse acontecer no final de julho e início de agosto. E o presidente ainda não pediu voto pra ela. O curioso é que uma parcela dos apoiadores de Serra pensa que ele é apoiado por Lula, 10% da população. Acho que está muito bom e temos um crescimento surpreendente. Inclusive na sondagem espontânea Dilma já ganha de José Serra.
Terra - Mas ao escolher Dilma Rousseff o PT não corre certo risco? Trata-se da primeira eleição dela como candidata, nunca participou de debates em televisão e rádio e a oposição ressalta essa inexperiência.
Fernando Ferro - Experiência ela tem. Como alguém que coordena o Programa de Aceleração do Crescimento, que comandou a Casa Civil, que tem a informação de todos os dados do governo não tem experiência? Como uma pessoa que assumiu o lugar de José Dirceu naquela crise e, de lá pra cá, só vê o País crescer politicamente e economicamente pode ser inexperiente? Em debate ela vai surpreender. Na eleição de prefeito, aqui no Recife, disseram que João da Costa (PT) era um poste e não saberia se defender. Quando ele assumiu a disputa, nos debates ele ganhou. Ele conhecia o governo assim como Dilma conhece. Ela lutou em vários campos e cenários, lutou contra a ditadura e luta dentro do governo Lula por esse projeto político. A oposição deveria estar comemorando essa falta de experiência dela, não é? Porque estão tão agoniados? Porque sabem que ela tem domínio dessas informações e tranqüilidade pra enfrentar essa luta. Dilma tem uma frente de partidos e o PT com ela. Ela não está sozinha nesta disputa. Ela está dando certo e o povo quer que isso continue.
Terra - Não é perigoso comparar a eleição de Dilma Rousseff com a eleição no Recife de João da Costa? Aqui, o pós-eleição resultou na ruptura entre o prefeito eleito e seu antecessor, João Paulo (PT).
Fernando Ferro - Me refiro à disputa eleitoral em si. Quanto ao estilo, a presidente do Brasil vai ser Dilma e não Lula. Como o prefeito é João da Costa, não é João Paulo. Evidente que algumas coisas poderiam ter sido evitadas. O importante é que estamos lidando com situações diferentes. Cada caso é um caso. Só exemplifiquei, pois foi um caso parecido com o que aconteceu aqui.
Terra - O senhor já declarou que preferia ter João Paulo na disputa pelo Senado em vez de Humberto Costa. O ex-prefeito não é muito subestimado dentro do partido?
Fernando Ferro - Não. João Paulo não pode ser subestimado, pois é a maior liderança do PT no Estado. Eu acho que faltou maturidade dentro do partido para fazer essa discussão. Prevaleceu a estrutura da máquina e de quem tinha a maioria. E acho que João Paulo ajudou nisso, quando saiu antes do tempo. Nós que apoiamos na indicação fomos avisados depois. Ele não fez uma reflexão conosco. Não deveria ter corrido tão rápido. Além de ser uma referência política para nós, vai ser fundamental nos desdobramentos do PT mais na frente e acredito que vai ser o deputado federal mais votado. Se houvéssemos feito um maior esforço, até por parte de João Paulo, pelo comando do partido no Estado, o resultado poderia ser outro.
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