segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Nordeste com cara de São Paulo


Tatiana Vaz

Recife, capital pernambucana atrai investimentos na contrução civil

Repare na foto que ilustra esta reportagem. A profusão de arranha-céus lembra uma imagem clássica de São Paulo, a maior cidade do País. Mas o retrato é do Recife, capital de Pernambuco, e simboliza a profunda transformação que está curso no Nordeste brasileiro.

Se até pouco tempo atrás a região era conhecida pela paisagem exuberante e pela pobreza, hoje exibe um vigor econômico que não é encontrado em nenhum lugar do Brasil. De acordo com uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas, a renda do nordestino cresceu, desde 2003, 7,27 % ao ano.

O número está acima da média nacional, que foi de 5,13%. Nos últimos seis anos, um contingente de dez milhões de nordestinos deixou a classe E para ingressar nas classes C e D. Essa mobilidade social, dizem os pesquisadores, não é comparável à de nenhuma região brasileira.

Tudo isso é resultado de programas governamentais de transferência de renda, mas o avanço do Nordeste não se deve apenas a isso. Acima de tudo, é reflexo de investimentos privados que chegam a uma velocidade surpreendente.

O Nordeste se tornou um catalisador de recursos aplicados por empresas de todos os setores econômicos. Na área de hotelaria, a região vence de goleada o restante do País.

Até 2012, 74% dos recursos destinados para esse segmento vão desembarcar na região. No varejo, estimase que os Estados brasileiros que vão receber mais dinheiro nos próximos anos serão Bahia e Pernambuco.

A construção civil, a indústria automobilística, as fabricantes de alimentos, as redes de eletrodomésticos, as gigantes de telefonia, todas têm em seus planos de negócios crescer - e investir - na região. "O desenvolvimento econômico está mudando a face do Nordeste", diz Francisco Teixeira, professor de administração da Universidade Federal da Bahia.

O que atrai as empresas é, principalmente, o poder de consumo emergente da população. Segundo um estudo recente da consultoria Gouvêa de Souza & MD, para cada R$ 1 que sobra do salário dos nordestinos no final do mês, R$ 0,78 é gasto na compra de bens de consumo.

Esse cenário atraiu a multinacional americana de alimentos Kraft. Até 2011, a empresa vai desembolsar R$ 100 milhões em sua primeira fábrica na região. A futura unidade de Vitória de Santo Antão, em Pernambuco, produzirá chocolates e sucos em pó para atender os consumidores do Nordeste e Norte do Brasil, onde as vendas crescem acima das do País.

"Vender para os nordestinos é um desafio", diz André Vercelli, diretor-geral da Kraft para a região. "Trata-se de um mercado exigente, que nos fez pensar em estratégias de marketing e lançamentos específicos." Desenvolver ações específicas para o Nordeste também foi a linha adotada pela Nextel. Em 2009, a empresa de telefonia investiu US$ 100 milhões para levar sua marca para a região.

Nesse processo, desenhou campanhas de marketing agressivas, como a do patrocínio do Carnaval de Salvador. "Valeu a pena. As vendas no Nordeste foram responsáveis por um aumento de 7% na nossa base de clientes", diz Mauricio di Roberto, gerente de vendas da Nextel Nordeste.

Os planos da Nextel para 2010 incluem a prospecção de pequenas e médias empresas que estão surgindo graças ao desenvolvimento local e a abertura de lojas para atender a nova classe média emergente. O Nordeste cresce de forma tão veloz que exige das empresas agilidade em suas ações.

Em 2009, a fabricante de eletrodomésticos Whirlpool aumentou o número de assistências técnicas na região de 90 para 140. Segundo Armando Ennes do Valle Junior,diretor de relações institucionais da Whirlpool para a América Latina, o número já é insuficiente. É o novo Nordeste mudando a cara do Brasil.

Fonte: Revista ISTOÉDinheiro

http://www.onordeste.com